quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

UMA NOVA PROXY - BLACK CIRCLES - CREEPYPASTA / ESPECIAL DE 6K INSCRITOS

                       Uma Nova Proxy 


Christopher era um garoto normal até certo ocorrido na vida dele. Sou amigo dele há quase nove anos, estudamos juntos boa parte da vida, e era tudo conforme o habitual, todos os dias. Chris e eu tínhamos bastante popularidade, em todos os sentidos. Em questão de aparência, ele tinha cabelos castanho-escuros e olhos verdes, e as meninas gostavam muito dele. A estatura dele era alta, e eu sempre fui um pouco mais baixo que ele. Estávamos no segundo ano do ensino médio, Chris com quase 17 anos e eu com 16. Sabemos que ele é do tipo de cara que não troca sua noite de sono e descanso por nada, então nunca o chamávamos para uma programação até tarde da madrugada, como virar a noite jogando videogame na casa dos amigos ou alguma festa.
No começo do ocorrido, Chris parecia somente mais distraído que o normal. A gente perguntava pra ele o que tinha acontecido, e ele dizia que não era nada. Brincávamos com ele, achando que ele estivesse apaixonado, coisas do tipo.
Depois, eu passei na casa dele. Mesmo com as brincadeiras, eu estava meio preocupado, queria saber o que estava acontecendo. Começamos a conversar, ele tirou dois potes de sorvete do congelador e ficamos sentados na ilha da cozinha, e então, toquei no assunto.
"Cara, o que tá acontecendo esses dias? Tem algo de errado?", eu perguntei.
"É muito estranho de explicar, sabe... Mas sim, tem uma garota envolvida.", ele falou, e depois, colocou uma colher cheia de sorvete na boca, como se fosse impedí-lo de explicar para mim, em vão.
"Ué, por que seria tão complicado? Que eu saiba, todas as meninas gostam de você, não iria ser difícil de chamar ela pra sair.", Eu tentei encorajá-lo.
"Sabe,  Daniel, quando eu falo que é complicado, é porque realmente é. Eu não sei onde ela mora, onde estuda, na verdade, eu não sei nem se ela existe de verdade... Eu gosto mesmo dela, pra caramba.", ele parecia estar bem afetado ao falar isso. "Eu venho sonhando com ela há quase uma semana, e ela não sai da minha cabeça."
"Sonhando com ela? Dizem que quando você sonha com alguém, é porque você já viu essa pessoa em algum lugar, na rua, na TV, na internet...", eu falei, na esperança de que ele se acalmasse.
"Você não entenderia...", Chris persistiu em discordar de mim.
"Olha, cara, por favor não comenta isso com ninguém. Okay?" disse ele, meio desanimado. Claro que eu concordei.
Nos dias seguintes, o Chris parecia cada vez mais sem energia. Nas aulas, parecia estar mais desatento por sono. Eu nunca, em nove anos, havia visto ele assim nas aulas, então, decidi mais uma vez conversar com ele. Assim que as aulas terminaram, lá estava eu.
"É a garota? Cara, você tem dormido bem?", eu cheguei ao lado dele, pegando em seu ombro, enquanto ele guardava os livros no armário.
"Tenho dormido quatro horas por noite. Simplesmente, perco o sono bem na hora de dormir. Já falei pra não falar sobre ela...", ele fechou o armário, colocando a mochila nas costas por uma alça.
"Chris, já tentou ver um médico, que te receite um remédio pra dormir, um calmante ou algo do tipo?" eu disse, seguindo-o para fora da escola.
"Sinceramente, não acho que eu precise disso, em breve, ela sairá dos meus pensamentos e ficarei como eu era.", ele deu um meio sorriso quando falou-me isso.
Duas semanas se passaram, e vi o estado de Christopher piorando. Ele estava cada vez mais incapacitado de realizar tudo que lhe era rotineiro, que era costume para ele. Percebia que ele não conversava mais com nosso grupo, e se isolava cada vez mais. Falava uma vez ou outra comigo pelo Facebook para perguntar algo sobre a escola que havia perdido atenção ou alguma anotação que não conseguiu concluir.
Daí, decidi que já era hora de falar com os pais do meu amigo mais antigo.
Esperei que chegasse a hora do jantar, para me certificar que estariam em casa.
Liguei para a casa de Chris, e ao terceiro toque, uma voz máscula e madura pode ser ouvida do outro lado da linha.
"Boa noite, sr. Jones. Estou ligando pois estou muito preocupado com o Chris...", eu disse, não muito animado.
"Daniel! Por que? O que houve?", o tom dele foi de alegre a preocupado em segundos, mas eu tinha que prosseguir.
"Sabe, ele vem estado super cansado esses dias. Contou-me que não está dormindo bem, e atualmente, tem se isolado do nosso grupo de amigos, inclusive online. Acho que seria recomendado levá-lo à terapia." expliquei do jeito mais franco que pude.
O pai de Chris concordou, e disse que iria marcar uma consulta para seu filho em breve. Pude respirar aliviado.
Outro dia, eu percebi que ele chegou na escola com olheiras. Eu meio que engasguei quando vi aquilo, como eu disse, nunca pensei que fosse ver o meu amigo que descansa super bem daquela forma.
"Ainda sem conseguir dormir?', eu disse, me aproximando dele.
"Minhas horas de sono reduziram. Eu definitivamente não fui feito pra isso...", ele suspirou.
Eu tinha combinado de ir na casa do Chris para ajudá-lo com o dever de casa, já que ele estava tão cansado. Então, diretamente da escola, nós fomos. Os pais dele estavam fora, e a irmã mais velha dele, estava em intercâmbio desde a semana anterior. Então estávamos ele, eu, e seu cachorro, o Max. Max era um dog alemão dócil, preguiçoso e amável. Ele ficou o tempo inteiro ao nosso lado, e de vez em quando, lambia o rosto de Chris para deixá-lo mais acordado. Enfim, depois de algumas páginas de exercícios, ouvimos a campainha tocar. Chris levantou-se e foi abrir a porta. Eu ouvi ele questionando, me levantei, e fui seguido de Max. Chris segurava um case de DVD, e logo também fiquei curioso.
"Estava aqui, em cima do tapete. Acha que devemos ver o que é isso?", Chris olhou para mim, indeciso.
"Sim, mas não no computador. Veremos no DVD player.", eu respondi, com intuito de proteger o computador de qualquer vírus ou algo do tipo. Ele simplesmente concordou, então fomos para a sala, eu me sentei enquanto esperava ele pôr o DVD. Mas, ao abrir o case, ele parou por um minuto, olhando para DVD ali dentro. Chris tirou-o dali e mostrou para mim. Não havia nenhum título, nenhum nome escrito no disco. Mas haviam desenhado algo meio perturbador: era um círculo com um "X" passado no meio. Pedi para ele pôr logo, evitando qualquer comentário que tivesse se passado em minha mente. Chris colocou o DVD, e então se sentou ao meu lado.
O vídeo mostrava algumas filmagens com estática da frente da casa de Chris. Mostrava nós dois entrando, quando chegamos da escola. Nós nos olhamos boquiabertos, e logo voltamos a atenção ao vídeo. Logo, depois de um pouco de estática mais densa, a cena cortou para um lugar, que parecia uma sala de estar, só que, ao mesmo tempo, era muito estranha. A atmosfera do lugar me fez sentir meio mal, mas ignorei aquilo, e esperei para ver o que se procedia. No fundo, ouviam-se risadas, meio anormais, e então, uma garota pareceu entrar na sala. Ela usava uma máscara cinza, com uma boca... Dividida? Um lado simbolizava um sorriso, e a outra, simbolizava uma expressão de tristeza. os buracos para os olhos eram maiores do que de outras máscaras que eu já vi. Ela olhou diretamente para a câmera, mas antes de se aproximar, ela gritou algo para fora da sala. Pelo que eu entendi, ela disse: "Diga ao EJ que eu deixei alguns rins em cima da mesa". Juro que quase pedi para o Chris dar pausa, mas aí ele disse algo que me fez olhar para ele, confuso.
"É ela... a voz é dela...", ele disse, quase sem voz.
Então, no vídeo, a garota se sentou em frente a câmera, soltou um risinho, e olhou de novo. A estática aumentou um pouco, inclusive no áudio. Então, ela falou de novo.
"Sentindo-se sem sono?", e logo após ela ter dito isso, a estática aumentou quando pudemos ver atrás dela uma pessoa alta, vestida de preto, segurando nos ombros dela. Seus dedos eram longos e extremamente pálidos. Não conseguíamos ver mais nada nitidamente, mas percebemos que ela tirou a máscara, porém, não conseguindo identificar seu rosto, por causa da forte estática. Percebemos ela sorrindo, e o vídeo acabou ali. O DVD player se abriu, e quando eu olhei para Chris, ele parecia estar totalmente em choque. Tentei chamar a atenção dele algumas vezes, e então, ele falou, novamente quase sem voz.
"É ela...", e deu um meio sorriso.
Eu peguei o DVD imediatamente, e o quebrei na hora. Chris reclamou daquilo, mas eu disse que era para o bem dele.
Eu ainda estava bem perturbado com o vídeo, queria esquecer tudo aquilo o mais rápido possível. Levantei o Chris e disse para voltarmos a estudar. Ele parecia estar completamente sem sono agora, e então, depois de um tempo, estávamos estudando como antes.
"Ela... Ela pode estar aí fora...", Chris olhou fixamente para mim.
"De jeito nenhum você vai atrás daquela aberração!", eu falei bem, em tom alto e claro.
Ele apenas se levantou rápido e correu, e obviamente eu fui atrás dele. Chamando-o e mandando ele parar. Ele saiu de casa, e olhou para onde a câmera que gravou aquele vídeo estaria, porém, não havia mais nada lá. Ele me fez seguí-lo pelo perímetro da casa, mas nada lá também. Eu falei que era melhor entrarmos, pois já estava escurecendo. Puxei-o pela mão e o levei relutantemente para dentro.
"O que deu em você?!", eu disse bastante estressado. Ele disse que não aguentava mais ter que ficar longe dela. Que ele a queria para si. Eu falei que ela era uma louca e que ele a deixasse para lá. Mas ele não falou nada depois disso. Passamos um tempo no computador, jogando um pouco, e então pedimos uma pizza. Enquanto não chegava, nós terminamos o dever de casa. Quando o entregador chegou, eram aproximadamente umas nove da noite. Nós o pagamos e fomos então para a sala. Ficamos conversando pelo celular com nossos outros amigos enquanto nos falávamos e comíamos também.
A campainha tocou novamente, eu e Chris nos olhamos confusos. Pensamos que poderia até ser o entregador, com algum problema com o troco, ou algo assim. Ele se levantou e eu também, e fomos abrir a porta. Na verdade, não havia ninguém por lá. Então ouvimos vozes do outro lado da rua. Era um garoto e uma garota, provavelmente um casal, ou ao menos, estavam agindo como um. O garoto tinha cabelos castanhos desarrumados, uma pele muito pálida e era mais alto do que a garota. A garota usava óculos, também de pele muito pálida, e cabelos longos. Chris abriu totalmente a boca quando viu a garota.
"É ELA, DANIEL. É ELA.", e antes que eu pudesse fazer alguma coisa para impedí-lo, ele já estava atravessando a rua. Eu o chamei em vão, porém, era tarde demais. Senti muita vergonha alheia naquela hora. Ele pareceu falar com os dois, perguntou se aquela garota sabia sobre o DVD e coisas do tipo, ela olhava para o garoto com quem estava de mãos dadas, com ar de riso, e continuou a caminhar com ele. Chris parou atrás dos dois e assistiu eles se afastarem. Fui até ele, tentar acalmá-lo, mas vi lágrimas encherem seus olhos. Já era, o coração dele estava partido.
"Agora, ao menos, você sabe que ela é real...", eu tentei, em vão, fazer meu amigo se sentir melhor. Ele olhou para mim, assentiu com a cabeça, e atravessou a rua, e eu o segui. Tentei animá-lo, assistimos uns episódios de uma série e tudo ocorreu mais ou menos bem no final da noite.
Ainda naquela semana, fiquei de ir ajudá-lo com a lição de casa novamente. Ele não tinha ido para escola naquele dia, então, quando as aulas terminaram, fui direto para a casa dele. Novamente, ele estava somente com Max. Sentamos, estudamos, e ele parecia triste, desiludido. Perguntei se ele estava bem e se queria parar com o dever. Ele disse que só precisava tomar um copo d'água. Eu disse que tudo bem, e fiquei no quarto com Max. Passaram-se 10 minutos, e eu achei muito estranho, pois ninguém leva esse tempo para tomar água. Levantei-me, seguido por Max, e fomos até a cozinha. Encontrei Christopher desacordado, no chão. Em cima da pia, havia um tubo de remédio vazio. Prontamente, liguei para os pais de Chris, que já estavam vindo para casa, coincidentemente. Liguei para a emergência, e eles chegaram um pouco depois dos pais de Chris. Decidiram que os dois iriam na ambulância e que eu ficasse esperando-os. Lentamente vi a ambulância e o som da sirene se afastarem, com o sentimento incerto de "será que verei meu melhor amigo de novo?".
No dia seguinte, fui visitá-lo, e ele estava bem, aparentemente. A overdose medicamentosa foi logo controlada, e em breve, ele teria alta. Eu disse que ficaria uns dias na casa dele para ajudá-lo a se recuperar. Ele sorriu, agradeceu e pediu perdão pelo o que ele fez.
Dois dias depois de ele ter saído do hospital, eu percebi que ele ainda estava meio disperso, provavelmente ainda pensando na tal garota. Apesar de eu evitar ao máximo tocar no assunto, percebi que ele não conseguia relaxar e dormir normalmente, por tanto, os médicos receitavam-lhe remédios soníferos em dose controlada, mesmo que ele se recusasse a tomar. Christopher estava aos poucos perdendo a si mesmo, perdendo sua personalidade, seu verdadeiro jeito de ser, e estava se tornando agora um adolescente problemático no sentido psicológico e sentimental.
Eu sabia que não podia ficar assim por muito tempo. Eu sabia que eu teria que ajudar meu melhor amigo. Então, conversei com os pais dele novamente sobre a terapia. Eles conseguiram agendar uma consulta domiciliar, a qual o psiquiatra pediu a qual eu participasse, para explicar-lhe com mais detalhes o que Chris não conseguiria sozinho.
Poucos dias depois, era mais ou menos a hora do almoço, eu sentei perto do Chris como de costume, e mesmo que ele permanecesse calado ou não falasse tanto, eu procurava sempre estar puxando assunto com ele de alguma forma.
Pouco tempo depois de terminarmos de almoçar, a campainha da casa toca, e o sr. Jones foi então abrir a porta. Nós dois sentamos no sofá, e a mãe de Chris posicionou a poltrona da sala em frente a nós dois. Se aproximando da gente, estava um homem de altura mediana, cabelos pretos, barba, aparentemente tendo seus 25 ou 30 anos. Por baixo de um jaleco branco, podia-se ver que ele usava uma camisa social azul e uma gravata marrom. Segurava uma pasta e uma prancheta, e cruzando as pernas, colocou repousou ali sua pasta e ergueu a prancheta, apertando o botão de sua caneta e em seguida, sorrindo para nós dois.
"Então, estou aqui com Christopher e Daniel, certo? Eu sou o Dr. Brian Evans, e hoje atenderei o Chris por pedidos de seu amigo Daniel.", percebi calma e tranquilidade no tom de voz dele. "Diga-me, Christopher. Como tem se sentido essas últimas semanas?", ele perguntou-o, mas também olhando para mim.
"E-Eu... me senti de várias formas essa semana...", Chris gaguejou um pouco ao responder ao doutor.
"Se puder, teria como descrevê-las para mim?", Dr. Evans agora esperou para que Chris respondesse algo, pois ele parecia estar pensando em como explicar.
Ele contou sobre a garota, sobre o DVD, sobre o casal, sobre sua tentativa de suicídio e sobre sua falta de sono constante. Dr. Evans anotou e escutou tudo atentamente, sendo bastante paciente nas pausas que meu amigo fazia, pois estava um pouco lento e desfocado.
Após a consulta, o médico receitou-lhe novamente um antidepressivo e um sonífero, os quais Chris se recusou a começar a tomar. Eu conversei com ele por um tempo, e consegui fazer com que ele aceitasse tomar o antidepressivo, mas não consegui fazer com que ele tomasse o sonífero.
Era até que uma tarde normal, como as passadas desde que ele voltou do hospital, porém, eu não sabia o que iria acontecer naquela madrugada.

Como de habitual, eu e Chris ficamos no quarto dele, assistindo um pouco de televisão e usando o celular. Chris estava no Facebook, e eu estava apenas pesquisando, sem que ele soubesse, quem era aquela menina, se pela internet havia alguma informação de quem ela era. Nada. Nenhuma informação. Então decidi procurar sobre a tal pessoa alta que apareceu no DVD também. O que achei foi um pouco chocante, e eu fiquei perturbado. Chris saiu do celular e ligou a televisão, queria pôr algum filme na Netflix para nós assistirmos. Ele percebeu que eu estava tenso.
"Daniel, você está bem?", disse ele com um tom preocupado.
"E-Estou, só meio distraído, só isso. Não se preocupe.", eu arranjei uma desculpa qualquer.
Assistimos algum filme da Marvel, e parecia que tudo estava bem. Por algum milagre, Chris havia dormido, e eu achei tudo aquilo muito estranho, porque ele nunca dormiu antes de mim durante essas semanas que estive na casa dele. Eu fiquei ainda um tempo acordado, mas o sono foi se apossando de mim aos poucos, coloquei a televisão para desligar no automático e fui cerrando meus olhos devagar. Quando eu percebi, já estava dormindo, mas acordei pouco tempo depois, sentindo meu corpo totalmente paralisado. Paralisia do sono, talvez? Eu não conseguia mexer nada que não fossem meus olhos. Aí então eu consegui perceber que aquilo não era uma paralisia do sono natural. Havia mais algo ali naquele quarto. Eu ouvia chiados de vez em quando, e logo pensei na tal garota. A porta se abriu lentamente, eu consegui ouvir o seu suave ranger. Uma risadinha feminina. A porta agora foi fechada. Andando pelas sombras e ainda fora do alcance do meu campo de visão, a tal pessoa esquivou-se até que eu pudesse vê-la completamente. Eu estava certo: era realmente a tal garota. A garota do vídeo. A garota que estava passeando com aquele rapaz naquela noite. A máscara dela me dava calafrios, e meu corpo estava gelando intensamente, até que eu vim a sentir uma dormência nas mãos e nos pés. A atmosfera do quarto estava pesada, e a temperatura havia baixado misteriosamente.
"Ah, olá, Daniel. Sentindo-se sem sono?", ela abaixou-se e falou isso bem perto do meu rosto. Percebi suas fortes e intensas olheiras. Parecia que ela não dormia há meses.
E foi nesse momento que Christopher acordou, sentou-se na cama e olhou para nós dois.
"V-Você?!", disse ele, com a voz trêmula, como se quisesse chorar.
"Ora, ora, o Chris fofinho acordou. Se importa se eu for aí te dar um abraço?", a garota riu.
No mesmo instante, Chris abriu os braços. Ela não saiu do lugar. Depois, foi levantando devagar, e foi até ele.
"Soube que você gosta de mim. É verdade?", ela pegou no queixo dele, e ele pareceu ficar ofegante com aquilo.
"Vamos brincar?", disse ela, em um tom sádico, e pegou do bolso de seu casaco uma tesoura de ponta, relativamente grande. Acho que era uma tesoura de cabeleireiro.
"Você sabe o que é isso? ", disse a garota, apontando a tesoura para Chris, que ainda estava com a respiração pesada.
"U-Uma tesoura.", disse ele, trêmulo.
"Correto, querido! ", disse ela, agora passando a mão na bochecha direita dele. "E o que eu vou fazer com ela?"
"...Me machucar?", disse ele, como se estivesse preparado e aceitando o que estava por vir.
"Oh, querido! Você é tão esperto...", disse ela, agora circulando em volta do meu amigo. "Pelo o que estou vendo, será mais fácil do que eu pensei."
Enquanto isso, fiquei tentando com todas as minhas forças conseguir me mover, sair daquela prisão invisível. Até que, ela pegou a tesoura e encostou no canto do olho direito de Chris. Dando uma risadinha, e com a outra mão, que estava vazia, ela pegou a pálpebra direita dele, e cortou-a de uma só vez. Chris gritou de agonia e dor, caindo no chão.
"Oh, e não se preocupe com seus pais, querido. Eles não estão mais por aqui.", ela riu, enquanto ele gemia de dor e sangrava.
"Onde estávamos? Ah sim... ", ela pegou a tesoura e dessa vez, deitou Chris no chão. Eu vi que ele não tinha forças para revidar, nem para se defender. Ele estava com as costas viradas para cima, e pegando a tesoura, ela foi cortando a carne do meu amigo, tirando seus dois rins. Pegou-os, e os colocou em um pequeno pote que trazia consigo dentro do bolso de seu casaco. O quarto estava inundado de sangue, e Chris parecia não reagir mais. Virando o corpo dele, ela abriu sua boca e cortou-lhe a língua. Colocou-a no pote também.
Eu queria gritar. Eu queria impedir tudo aquilo... Mas tudo que eu consegui fazer foi dolorosamente assistir meu melhor amigo sendo morto, bem na minha frente, de uma forma terrível.
Ela olhou para mim, e dali, eu consegui recuperar meus movimentos e levantei, pronto para batalhar com ela.
"Não se aproxime de mim, sua louca.", eu disse, com lágrimas em meus olhos, e ela apenas riu da minha cara.
Ela caminhou vagarosamente até mim, e eu ia recuando cada passo que ela dava. Ela me encurralou na parede.
"O que estava dizendo?", ela abria e fechava a tesoura, talvez para me meter medo.
Eu virei meu rosto cada vez que ela se aproximava de mim, o que acontecia muito rápido.
"Eu não vou matar você. Eu vou deixar você ser o culpado de tudo isso. Você vai sofrer não só pela morte de seu melhor amigo, mas também pelo o que farão com você a partir de então".
Ela pegou o pote que estava com os rins e e a língua, e me sujou com o sangue que havia ali dentro. Provavelmente, fez isso para me incriminar. Eu tentei pegar a tesoura dela, mas ela realmente tinha uma agilidade fora do comum.
"O que pensa que está fazendo? ", disse ela, passando a tesoura suja em uma das minhas bochechas."
Ela me conduziu até a cama e me deitou lá. De repente, eu estava paralisado de novo.
"Aproveite bem sua futura vida.", e assim, ela saiu do quarto. Deixando apenas eu e o corpo sem vida de Chris ali.
Eu acabei dormindo de novo. Acordei em uma sala inteiramente branca, parecia um quarto. Ouvi vozes, vindas do lado de fora, falando sobre o fato de eu ter acordado. Duas pessoas entram ali, ambas vestidas de branco dos pés à cabeça.
"Bom dia. Você está internado em um hospital psiquiátrico. Seus pais preferiram te deixar aqui do que na prisão.", disse uma delas, que tinha uma voz feminina.
"Sabe que provavelmente possa passar anos de sua vida aqui, certo? O que você fez foi algo realmente muito grave. Melhor não tocarmos no assunto, com certeza você já sabe o que é.", o rapaz que estava ao lado dela concluiu.
Hoje fazem 3 semanas que toda essa loucura aconteceu. Estou aqui, preso, sem saída. Tudo por causa daquela... doente. Eu não mereço isso.
Passei um tempo escrevendo isso no bloco de notas de meu celular, que por algum motivo, estava no meu bolso. Não havia mais nada que eu pudesse fazer durante esse tempo todo.
E o que mais me assusta é que ela pode estar por aí, fazendo as mesmas coisas que ela fez ao Chris, com outras pessoas inocentes.

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