Meu avô Luiz, quando jovem, morava na Rua Sergipe, bem em frente ao Cemitério da Consolação.
Muitas vezes, ao voltar para casa, fugindo da agitação paulistana de carros subindo e descendo a Rua da Consolação que já nos anos 30 do século passado parecia barulhenta, meu avô cortava caminho pela calmaria do meio do cemitério.
Às vezes era fim de tarde, à noite caia em meio à passagem pela necrópole.Muitas de suas histórias se passavam nesta passagem entre o mundo dos vivos e o dos mortos e vice-versa.
Seria impossível dizer quais histórias aconteceram de fato, quais eram provindas da tradição oral ou quais eram inventadas na hora por ele na hora porque ao recontar, parecia reviver todas as suas aventuras, verdadeiras ou fictícias e, com precisão, graça, dava vida até ao que talvez... não tivesse mais vida.
Uma vez o Vô Luiz me contou assim:
“Lá estava eu, atravessando o cemitério às escuras, morrendo de medo de andar sozinho pela cidade dos deitados, torcendo para uma alma viva aparecer, quando a luz da Lua refletiu um vulto caminhando na mesma direção que eu - e se aproximando.”
Meu avô apertou o passo mas a silhueta do homem que vinha lá atrás logo estava ao alcance de um passo. Quando os dois emparelharam, o coração de meu avô estava fora de compasso e ele tentou se acalmar puxando papo com o vulto:
“- Ainda bem que o senhor me alcançou, tenho um pouco de medo de andar sozinho por aqui.”
“- Pois é, eu também, quando era vivo, tinha medo de andar sozinho por aqui.”
em homenagem à minha avó Ida Barrella Lisboa, que neste dia 13 de setembro de 2014 completaria 99 anos e ao meu avô Luís Barros Lisboa que numa “sexta-feira 13” como esta, contaria várias aventuras como essa.
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